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AMOR PLENO/Crítica – cinema-poesia

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Terrence Malick dá continuidade à poética de A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011) com o novo Amor Pleno (To the Wonder, 2012). Os resultados resultam satisfatórios, especialmente para quem gostou do filme anterior desse que é um dos diretores mais vanguardistas do cinema produzido nos Estados Unidos atualmente

Ben Affleck e Olga Kurylenko em AMOR PLENO (2012)

Ben Affleck e Olga Kurylenko em AMOR PLENO (2012)

Um filme como Amor Pleno (To the Wonder, 2012) é um objeto completamente estranho na programação de um cinema de shopping. Especialmente no mês de julho. Por isso a rejeição que causa aos desavisados. Amor Pleno é cinema-poesia, algo que raramente se faz, quando a tendência é o cinema-prosa, o cinema em que se conta uma história como em um romance. A história neste filme de Terrence Malick, no caso, é o que menos importa. Quem viu A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011) já sabe mais ou menos o que esperar, embora se trate de um filme menos ambicioso em diversos aspectos.

Algumas coisas incomodam, como o fato de Ben Affleck não dizer uma palavra sequer na língua de sua namorada/noiva. Aliás, ele mal fala durante o filme inteiro. E quando responde uma pergunta em francês da garotinha, ele responde em inglês. Isso pode ser visto como uma tendência do americano em rejeitar a língua estrangeira, mas no filme acaba ganhando outra conotação: a da dificuldade de comunicação e sintonia entre os personagens de Affleck e Olga Kurylenko. A atriz ucraniana, aliás, nunca esteve tão linda (se esteve, desconheço.)

Como se trata de cinema-poesia, Amor Pleno tende a gerar percepções e impressões ainda mais diversas nos espectadores. Eu, por exemplo, vejo a imagem da mulher no filme muito mais natural, mais pertencente harmonicamente à natureza do que o homem, que parece sempre uma criatura perdida e hesitante. A hesitação, inclusive, é citada pelo personagem de Javier Bardem, que vive um padre em crise de fé. Ele afirma que a pessoa que hesita deixa a vida passar. E é assim que se mostra o personagem de Affleck, que se comporta sem saber o que fazer com as duas mulheres que passam por sua vida (a outra é Rachel McAdams, antiga paixão da mocidade).

A mulher, diferente do homem, quer amar de maneira plena; tem certeza de que quer viver fortemente a vida. E o curioso é o modo como Malick mostra esse sentimento, sem recorrer aos tradicionais diálogos naturalistas. Às vezes a situação não fica tão convincente, como nas cenas em que vemos os casais brigando. Se a música não fosse um elemento tão forte e presente para constituir uma obra tão cheia de reverência à vida, ao amor e à fé, Amor Pleno poderia ser, sem problemas, um filme mudo. Mas as palavras, muitas vezes sussurradas em voice-over, também têm grande importância. Assim como as várias vezes em que a câmera se aproxima dos personagens, como se quisesse adentrar seus espíritos, mas encontrando sempre a barreira física.

Ben Affleck e Rachel McAdams em AMOR PLENO (2012)

Ben Affleck e Rachel McAdams em AMOR PLENO (2012)

O mundo físico, da natureza, dos filmes de Malick, que sempre têm um pé no plano metafísico, encontrou a espiritualidade de fato em A Árvore da Vida, mas aqui novamente encontramos espíritos presos ao mundo material. O uso frequente da câmera aproximada passa um ar de amor aos personagens, mesmo aqueles que aparecem uma única vez, como os presidiários e as pessoas enfermas. Como se fosse a visão de Deus perante as almas sofridas.

Diferente de A Árvore da Vida, em que a religiosidade é vista de forma mais explícita em sua conclusão, aqui os personagens são entregues a seus tristes destinos, como se estivessem totalmente abandonados por Deus. Por isso a solidão é um elemento tão presente. E talvez por isso Amor Pleno seja um filme que tenda a crescer em nossa memória afetiva. Ter a chance de vê-lo em película é uma oportunidade que não se deve desperdiçar.

Ficha técnica

AMOR PLENO (To the Wonder, EUA, 2012), de Terrence Malick. Com Ben Affleck, Olga Kurylenko, Rachel McAdams, Javier Bardem, Tatiana Chiline, Romina Mondello. 112 min. Paris Filmes. 12 anos.

Veja o trailer

Clique aqui para assistir o vídeo inserido.

 

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